Bragança Paulista, terça-feira, 1 de abril de 2021

Loco 1 em Atibaia quando foi abandonada. Foi ela quem levou o material para construir a E.F.B.

Autor: Francisco C. Araújo

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A mesma locomotiva recuperada foi utilizada para turismo no Central Park de Atibaia. Ela foi vendida e hoje encontra-se preservada em uma fazenda de café no bairro Campo Novo.

Autor: Bruno P. Santos - 2000

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Loco 2 em 1967, após ter sido reformada. Hoje está exposta no Lago do Taboão, depenada e com a placa da 3.

Autor: Francisco C. Araújo

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Cabine e placa da loco 2. Era para ser restaurada e funcionar no trecho Curitibanos-Guaripocaba, mas o projeto foi abandonado.

Autor: Francisco C. Araújo

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Loco 3 estacionada ao lado do lago do Taboão após ter sido desativada nos anos 1960. Foi sucateada.

Autor: Francisco C. Araújo

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Loco 4 no Taboão quando a E.F.B. ainda estava ativa. Essa máquina foi resgatada de um Leilão dos bens do Instituto Mairiporã em 2023 e está exposta atualmente na Praça do Matadouro.

Autor: Francisco C. Araújo

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A mesma loco 4 quando estava no Instituto Mairiporã em 1998.

Autor: Carlos S. Filho


A Estrada de Ferro Bragantina

Era 18:40h. A plataforma da Estação Taboão estava repleta de pessoas. Todas aguardavam ansiosamente a chegada do trem. Queriam ouvir o último apito e dizer o adeus final à querida ferrovia...finalmente o trem chegou. Os apitos se sucediam sob as palmas frenéticas da multidão...eram os últimos apitos que os taboenses ouviriam do trem da bragantina...

Esses trechos, pinçados de um texto escrito por José de Lima para um jornal da época, nos descreve como foram os últimos suspiros de uma ferrovia que durante quase um século serviu a várias gerações de bragantinos.

Tudo começou no final da década de 1860, quando os barões do café daquele tempo resolveram pegar carona no progresso e implantar uma ferrovia onde pudessem escoar a sua produção, que até então era transportada por tropeiros em lombo de animais. Levava-se semanas de viagem de Bragança até o Porto de Santos.

Foi por Lei Provincial de 6 de abril de 1872, com o privilégio por 90 anos e garantia de juros de 7% por 30 anos, que a Estrada de Ferro Bragantina tomou forma. O trecho autorizado saia da Estação Campo Limpo da S. Paulo Railway à cidade de Bragança, e foi concedido a Francisco Emilio da Silva Lima. Logo no começo a Companhia passou por um período conturbado, foi transferida a Temistocles Petrochino e Antonio Alves de Andrade, que a passaram a Sales Figueiredo e Cia., que a venderam à Companhia Estrada de Ferro Bragantina, autorizada a funcionar pelo decreto 6.781 de 22 de Dezembro de 1877. Os trabalhos de implantação da ferrovia foram iniciados em 22 de dezembro de 1878 com a presença do Barão de Tres Rios, vice-presidente da província, e se arrastaram por quase 6 anos, incluído aí um tempo de quase dois anos em que as obras ficaram completamente paralisadas, pois a Companhia quase faliu. Foram superados obstáculos imensos à época, pois não havia maquinário disponível e tudo tinha de ser feito com pás e picaretas. Finalmente, em 4 de maio de 1884 inaugurou-se o primeiro trecho até Atibaia, e em 15 de Agosto do mesmo ano até Bragança, numa extensão de 52 km. Custo por km da obra: Cr$ 46.836,00 na época.

"Bragança 1884. Agosto. Uma graça indefinível na cidade quieta, que empolga e fascina. Crepúsculo...Sombra e Luz. Um pouco da noite e um pouco do dia. Não se sabe se as nuvens vão esconder ou desvendar a glória do sol. Bragança está em festa. Fatiotas novas, vestidos lindos, o povo ansioso. Inauguração da Estrada de Ferro...e do telégrafo. A cidade já possuía boa iluminação, bom comércio, grande quantidade de carroças e outros veículos, fora os trolis particulares. Com a inauguração da ferrovia, Bragança assistiu a três dias "festivos e ruidosos". Ao ato inaugural compareceu D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, bispo de São Paulo, havendo o Dr. Antonio Joaquim Leme proferido eloqüente discurso quando da chegada do primeiro trem. Abrilhantaram a cerimônia três bandas de música: a de Santo Antonio da Cachoeira, hoje Piracaia, a de Atibaia e a de Bragança. Uma notícia da época no jornal O Guaripocaba dizia: "O povo desta cidade pode orgulhar-se de ter assistido a mais esplêndida festa popular que já houve em Bragança...só a chuva estorvou...em geral, Bragança, ávida de progresso, levantou-se entusiasticamente como um só homem, para festejar o acontecimento solene que lhe vai abrir nossos horizontes e a ligará em comunhão fraternal a todos os centros civilizados num futuro pouco remoto".

Na verdade, com a chegada da ferrovia, Bragança, que até então era servida por caminhos feitos pelas mulas e por trilhas mal conservadas, recebeu nova esperança de vida. Um ano após a sua inauguração, O Guaripocaba publicou:

"Completa-se depois de amanhã um ano em que foi inaugurado o tráfego da linha férrea bragantina, data essa que representa o mais agigantado passo dado na senda dos melhoramentos locais. A cidade em festa e a população em delírio saudava nesse dia o advento da locomotiva, que, em sua linguagem muda, mas significativa, nos dizia: -Eis! Avante! Caminhemos!".

De fato, Bragança caminhou acompanhando a "vertiginosa" rapidez do vapor. A Estrada de Ferro incutiu no povo da época um sentimento de progresso, o que fez com que a cidade evoluísse em todas as áreas. Assim seguiram com a Companhia Bragantina até 21 de agosto de 1903, quando os ingleses compraram a ferrovia e esta passou a chamar-se SPR.

Inicialmente a ferrovia utilizou 5 locomotivas a vapor Kitson de fabricação inglesa, que receberam numeração de 1 a 5 e foram batizadas em homenagem às autoridades da época. Assim ficaram conhecidas até o final das atividades:

  • 1 - Conde de Tres Rios - Foi recuperada e funcionou como atração turística na cidade de Atibaia num trecho de 800 metros. Posteriormente foi vendida e transferida para uma fazenda de café no Bairro Campo novo em Bragança Paulista, onde encontra-se preservada.

  • 2 - Dr. Luiz Leme - Essa locomotiva está exposta como monumento no lago do Taboão, em Bragança Paulista. Está com a placa de identificação número 3 porque a original 2 foi roubada por vândalos enquanto ficou durante anos exposta ao sol e chuva no bairro do Lavapés. Ia ser restaurada para ser utilizada em um passeio turístico, porém, o projeto nunca foi adiante.

  • 3 - Dr. Lins de Vasconcellos - Foi sucateada.

  • 4 - Bragança - Essa locomotiva estava preservada no Instituto Mairiporã, tendo sido colocada em funcionamento eventualmente durante todos esses anos. Recentemente foi recuperada de um leilão pela Prefeitura de Bragança Paulista e hoje encontra-se como monumento na Praça Jacinto Osório, bairro do Matadouro.

  • 5 - Barão de Jundiahy - Não consegui informações sobre o paradeiro dessa máquina.

A ferrovia ainda tinha diversos carros de passageiros e 55 vagões de carga de diversos tipos, inclusive para transporte de animais.






Bibliografia desta página:

- Recorte de artigo de José de Lima em jornal não identificado.

- Trechos de notícias do "O Guaripocaba".

- Livro Meio Século de Estradas de Ferro.

- Livro S. Paulo Através da História Vol III, publicado em 1943.


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